E agora pode ser quem você menos imagina.
Você realmente sabe quem é o principal concorrente da sua empresa? Gosto de fazer esta pergunta para algum executivo ou empreendedor sempre que tenho a oportunidade. E muitas vezes escuto uma resposta positiva e contundente – Mas é claro que conheço! – junto com uma lista de nomes de empresas concorrentes.
Todos que estudaram alguma disciplina de negócios como marketing, publicidade, administração e economia, aprenderam que são considerados concorrentes diretos todas as empresas que oferecem produtos ou serviços semelhantes e que disputam a mesma fatia de mercado ou consumidores. Também aprenderam sobre concorrentes indiretos, que são aqueles que não possuem produtos ou serviços semelhantes, mas que buscam um mesmo público-alvo, fazendo muitas vezes com que este consumidor opte entre uma empresa ou outra motivado, principalmente, por fatores financeiros – por exemplo, quando um consumidor deixa de comprar um carro para investir o mesmo dinheiro em uma viagem.
Entendo que estes conceitos ainda podem ser de certa forma válidos, mas quando falamos principalmente de B2C, é necessário ampliarmos um pouco mais a visão e prestarmos mais atenção ao que está acontecendo no mercado, principalmente em outros segmentos. As empresas e seus executivos precisam conseguir sair da bolha que elas mesmas criam, onde tudo e todos giram em torno do seu próprio umbigo.
A 31ª Pesquisa Anual da FGVcia (Centro de Tecnologia de Informação Aplicada) mostrou que o Brasil possui 234 milhões de smartphones e se adicionarmos tablets e notebooks, este número passa para 342 milhões, o que dá uma média de 1,6 dispositivos portáteis por habitante e em crescimento constante. E junto com esta quantidade absurda de smartphones, vem se consolidando cada vez mais o novo comportamento do consumidor que muda todos os conceitos de concorrência.
O seu concorrente não é mais apenas aquele que atua no mesmo
segmento ou que disputa o mesmo dinheiro do seu cliente.
Mas principalmente aquele que disputa a atenção e o tempo dele.
E a pandemia ajudou a acelerar ainda mais tudo isso.
Sim, a disputa é pela atenção e pelo tempo das pessoas, simplesmente porque todo mundo tem na mão um smartphone e todo o mundo digital que em a reboque, como por exemplo as Redes Sociais, YouTube, WhatsApp e jogos, que cada vez mais ocupam a atenção de todos e isso torna tudo um pouco mais difícil para as empresas. Na verdade, talvez isso nem seja tão novo assim e vejo que algumas empresas já perceberam e estão tentando se adequar, mas muitas ainda não conseguiram enxergar isso corretamente.
Para entender melhor, vamos imaginar alguns cenários.
Pense naquelas gôndolas em frente aos caixas em supermercados. Elas têm por função principal chamar a atenção do consumidor que está parado ali esperando na fila do caixa, ativando compras por impulso de produtos de baixo preço. Há alguns anos, chamar a atenção do consumidor neste local devia ser fácil pois, convenhamos, é muito ruim ficar parado numa fila de qualquer coisa sem fazer nada. Agora, coloque um smartphone na mão deste mesmo consumidor nesta mesma fila e avalie onde possivelmente estará a atenção dele até chegar a sua vez de ser atendido. Possivelmente a empresa fabricante de chocolates, por exemplo, que sempre usou este espaço para vender seus produtos por impulso, nunca imaginou que um smartphone e a reboque o Instagram, o Facebook, o Whatsapp ou aquele “joguinho que é a febre do momento” seriam seus concorrentes. E para complicar ainda mais, vem uma pandemia que faz com que muitas pessoas inclusive deixem de ir ao supermercado para começar a fazer compras pela Internet.
Como outro exemplo dentro deste novo conceito de tempo e atenção do cliente no mundo digital, gosto de usar o Uber e o impacto que ele está trazendo não apenas na indústria automobilística, mas em outros setores como os de postos de gasolina. O pensamento é simples, menos carros vendidos, menos carros consumindo combustível. Além da grande maioria das pessoas ficarem no celular o tempo todo enquanto estão se deslocando no Uber.
E os jogos da moda, que chamo costumo chamar de grandes devoradores de tempo? Lembro há alguns anos a febre causada pelo Pokémon Go e era curioso observar na rua, na hora do almoço na região onde ficava o meu escritório, a quantidade de pessoas paradas em frente a lojas e outros comércios. Imaginem aquela loja, comércio ou shopping que resolveu se estabelecer ali por causa alta concentração de empresas, para aproveitar momentos de grande fluxo de pessoas, como a hora do almoço, para realizar suas vendas e percebe que muitas destas pessoas possíveis clientes, depois de almoçarem rapidamente, preferem andar pelas ruas olhando fixamente para o celular e jogando Pokémon Go até a hora do almoço terminar.
Como disse, talvez isso nem seja tão novo assim e talvez a pandemia ainda acelere muito mais algumas coisas (para o bem e para o mal, inclusive), mas o fato é que já passou da hora de das empresas entenderem que qualquer um que disputa o tempo e a atenção do seu cliente é seu concorrente, não importa o que ele venda.
Então, o que você fará para ter a atenção do seu cliente para que ele gaste mais tempo com você e assim, como consequência, consuma mais da sua empresa?
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